Apesar disso, o número de hospitais acreditados ainda é pequeno no país. Para falar sobre essa realidade, a Wareline Conecta entrevistou a superintendente da ONA (Organização Nacional de Acreditação), Maria Carolina Moreno. A profissional possui formação em medicina e especialização em administração hospitalar e serviços de saúde pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e também é mestre em saúde coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
WCONECTA: De modo geral, a acreditação hospitalar é procurada, sobretudo, pelas grandes instituições de saúde. Isso pode indicar que a certificação ainda é vista como supérflua para os hospitais do país?
Maria Carolina Moreno: Os hospitais valorizam a acreditação, mas, às vezes, acham que é algo acessível apenas para instituições de maior porte, o que não é verdade. Para a acreditação, a mudança cultural da equipe e a melhoria contínua dos processos é o mais importante. Para ser acreditada, a instituição deve ter protocolos que garantam, em primeiro lugar, a segurança do paciente e a qualidade do atendimento, e isso é algo que só se pode atingir com o engajamento de gestores e de todo o corpo clínico.
WCONECTA: O que tem sido feito para conscientizar o setor sobre a importância da acreditação?
Maria Carolina Moreno: A ONA tem atuado em diversas frentes para tornar a acreditação mais conhecida por instituições de saúde. Em parceria com entidades de classe, promovemos palestras abordando temas como segurança do paciente e gestão do risco. Estamos organizando, até agosto do ano que vem um grande evento com especialistas nacionais e internacionais sobre o tema. Também planejamos o lançamento de um guia prático para ampliar a bibliografia nacional sobre ferramentas da qualidade, base para o atendimento aos padrões exigidos pela acreditação. Ainda assim, essas ações são pequenas em relação ao universo de hospitais – menos de 10% têm a acreditação atualmente. é um percentual que está longe de ser satisfatório e mostra o desafio que temos que enfrentar.
WCONECTA: São citados diversos benefícios agregados com a certificação. Mas num país onde ela ainda é pouco procurada, há o reconhecimento de sua importância pela sociedade?
Maria Carolina Moreno: O reconhecimento da acreditação é mais difundido entre profissionais de saúde. Fora desse universo, poucos conhecem, mas a tendência é que cresça. Hoje os planos de saúde precisam destacar, na lista de instituições credenciadas, os hospitais que têm acreditação. Isso faz com que o público comece a conhecer o que é a acreditação e a utilizar como critério para escolher uma instituição de saúde. Também já temos um número pequeno, mas crescente, de hospitais públicos acreditados, algo que é noticiado pela mídia e faz com que mais pessoas conheçam e reconheçam a acreditação.
WCONECTA: Na sua opinião, qual o papel do governo no processo de incentivar a acreditação. Isso já acontece ou deveria acontecer com mais intensidade?
Maria Carolina Moreno: A atuação dos governos já acontece e é fundamental. Para a contratação de OS’s, por exemplo, a acreditação costuma ser um dos critérios adotados para avaliar o serviço prestado. Alguns governos estaduais também começaram a adotar a acreditação como uma política para melhorar os serviços públicos de saúde. Em Goiás e no Distrito Federal já foram feitas licitações para avaliação e acreditação de hospitais. Dois em Goiânia foram acreditados recentemente, o que é um passo importante para oferecer à população um atendimento de qualidade.
WCONECTA: Qual a importância do uso correto dos softwares de gestão hospitalar para aprimorar os processos, essenciais para as instituições que querem ser acreditadas?
Maria Carolina Moreno: Eles facilitam o gerenciamento dos processos e avaliação dos resultados, quando bem utilizados. No entanto as organizações precisam entender primeiro o que e como querem medir, para que isto seja feito da forma correta. Existem trabalhos internacionais que comprovam que a utilização de prontuário eletrônico diminui o risco de eventos adversos. No entanto, no Brasil, o percentual de organizações que possuem o prontuário eletrônico completamente implantado é muito pequeno.
WCONECTA: A própria ONA recebeu a certificação ISQua no ano passado, que atesta a sua qualidade internacional. O que isso significou para a organização?
Maria Carolina Moreno: Para nós foi uma grande conquista. A metodologia da ONA foi desenvolvida para a realidade brasileira, mas comprovadamente atende a padrões internacionais de qualidade e de segurança do paciente. Isso só engrandece as mais de 400 organizações de saúde que hoje são certificadas.
Entrevista publicada originalmente na revista Wareline Conecta – Edição 08 – Dezembro/2014