No final de 2013, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo lançou o Programa Santas Casas SUStentáveis, que entrou em vigor com a promessa de trazer um novo cenário para as Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do estado. Conhecido como SUStentáveis, ele consiste em classificar as instituições em três níveis diferentes, levando em conta o grau de complexidade dos pacientes e suas características, e destinar a elas recursos adicionais que possam proporcionar mais fôlego financeiro.
No nível 1 estão os hospitais estruturantes, aqueles de alta complexidade e que passaram a receber mais 70% da verba de antes, os hospitais estratégicos, que têm média complexidade e ficaram com 40%, e os de apoio, que têm menos de 50 leitos e recebem 10%. Segundo a secretaria, o objetivo do projeto foi contribuir para o desenvolvimento de um parque hospitalar de referência no Estado de São Paulo e para a formação e integração de uma verdadeira rede de assistência à Saúde, capaz de prestar serviços de qualidade e resolutivos para a população.
Um ano e meio após sua implantação, conversamos com Wilson Modesto Pollara, Secretário Adjunto da Saúde do Estado, que fez uma análise muito positiva do período. “Com o aumento dos recursos provenientes do governo estadual, houve melhoras muito significativas. Nosso propósito foi retirar o déficit de custeio do SUS.
Diferentemente da prática do Ministério da Saúde, que destina mais recursos, mas vincula isso ao crescimento dos atendimentos, nosso objetivo é pagar mais pelos atendimentos que já estão sendo prestados. Assim, buscamos proporcionar um respiro financeiro e diminuir os efeitos da tabela muito injusta que é praticada hoje”, explica o secretário.
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Segundo Pollara, outro grande avanço resultante do SUStentáveis foi uma melhora evidente na prestação do serviço dessas instituições, pois ao fazerem a adesão a esse auxílio, os hospitais se comprometeram a atender às exigências e requisitos do convênio – foram criados 32 indicadores a serem analisados periodicamente, bem como dadas notas para as instituições que avaliadas; aquelas que tiram de 0 a 2,5 foram excluídas, as de 2,5 a 5 tinham como penalidade uma perda financeira de 30% no valor que recebiam, as de 5 a 7 uma redução de 10% e as que obtinham nota acima de 7 não perdiam nada. “Nosso programa está vinculado ao desempenho financeiro, à produção e atendimento aos pacientes e também à qualidade do que está sendo oferecido. Assim, as santas casas e hospitais tiveram que se adequar e prestar um atendimento melhor, além de focar em uma gestão financeira adequada, caso contrário seriam punidas. Foi muito bom ver a evolução das participantes, que batalharam para fazer o melhor; Nossa expectativa é que continue assim”, garante.
O fato de se atrelar a verba recebida ao resultado da prestação da atenção à saúde parece ter trazido efeitos positivos para o setor. No entanto, ainda é um desafio. A equação “receber dinheiro + ser sustentável + mostrar resultado” ainda não é uma realidade de grande parte das instituições. A verba foi um primeiro passo para administrar o problema financeiro de maneira mais eficaz, mas é preciso treinamento para que os administradores e gestores estejam capacitados para conduzir os processos, e para desenvolver um planejamento estratégico e, mais do que isso, possam monitorar de perto os resultados. “O SUStentáveis é um projeto de gestão, em que se fortalece a rede toda do Estado, e os recursos estão vinculados a estratégias consistentes”, reforça o secretário.
Instituições do projeto
Inicialmente eram previstas 130 instituições participantes, sendo 69 de Apoio, 17 Estruturantes e 44 Estratégicas. No entanto, o secretário explica porque isso não aconteceu. “Essa previsão foi feita com base em estudos da gestão anterior que se mostraram equivocados. Após uma nova classificação, levando em conta transferências de pacientes entre hospitais com baixa e alta complexidade, esse número foi revisto, chegando a 66 no total, sendo 14 Estruturantes, 42 Estratégicas e 10 de apoio”, explica.
Verba
Com relação à verba, o secretário afirma que dos 400 mi previstos em 2014, foram gastos R$352 mi. Esse ano, a previsão foi a mesma, mas por conta da crise em que o país se encontra, esse número pode mudar. “Já temos 280 milhões realizados e, contratualizados, temos entre 60 e 70%”.
Gestão estratégica e TI
Para Raphael Castro, gerente Comercial da Wareline, a TI pode ser uma grande aliada para os gestores e administradores que buscam gerir esse capital de maneira a garantir a saúde financeira do hospital. “A tecnologia tem o papel de municiar o gestor com informações para suas tomadas de decisão. Em grande parte esse processo deve ser rápido e possibilitar que os ajustes necessários sejam feitos para atingir os objetivos com os investimentos realizados. Além disso, não existem indicadores confiáveis se não há uma integração entre os setores e seus colaboradores. O sistema de gestão hospitalar é, portanto, um facilitador desse processo e o meio oficial de se obter dados, pois retratam as reais condições da instituição”, garante.
Castro concorda com o secretário sobre a necessidade de planejamento e ações estratégias, e aponta quais resultados acredita que essa gestão coordenada deve apresentar para as instituições ao longo do tempo. “Acredito que no curto prazo os hospitais terão recuperado em parte o poder de negociação com fornecedores e credores, uma vez hoje isso não é possível devido aos recursos cada vez mais escassos para as Santas Casas. No médio prazo, se os investimentos começarem a surtir efeito, veremos uma melhora nos padrões de qualidade dos serviços e, confirmando-se essa tendência, a longo prazo, conquistaríamos unidades mais flexíveis no modelo de gestão, orientadas a sua capacidade de atuação e investimento. O SUStentáveis é uma iniciativa que visa, além de outros benefícios, criar uma rede de unidades referenciadas entre si de acordo com o porte e capacidade de cada uma, influenciado por fatores estruturais, demográficos e logísticos, diminuindo custos de operação. E com planejamento e acompanhamento isso será possível”, aponta Castro.