A saúde só sairá da falência quando houver gestores, de verdade

A saúde só sairá da falência quando houver gestores, de verdade

Caso haja um problema no motor do automóvel, procure um mecânico. Ocorrendo uma dúvida no Imposto de Renda, acione um contador. Em uma audiência comum juiz é recomendável estar acompanhado de um advogado. Se você sentir uma arritmia cardíaca, busque imediatamente um cardiologista. Para construir algo, nada mais natural que lançar mão de profissionais da área como pedreiro, engenheiro ou arquiteto.
Ora, se as premissas acima possuem fundamento, um gestor em saúde deveria entender, acima de tudo, de gestão. Mas não é bem assim. Ocorre que, historicamente, houve um errôneo desvio de função em que profissionais de saúde começaram a ocupar funções e cargos de liderança por diversas razões. Entre elas estão: indicação política, apadrinhamento, sociedade nos negócios, amizades importantes ou por serem ótimos profissionais de saúde e referências técnicas em suas áreas, além de terem uma boa relação interpessoal e respeitabilidade, entre
tantos outros motivos.
Esse erro histórico fez com que tais profissionais – que entendiam muito bem das questões clínicas e médicas – assumissem a gestão, sem entender absolutamente nada da área, trazendo aos modelos corporativos a ótica da clínica.
Os erros começaram a ocorrer desde o início e perduram até hoje. Foi possível tapar o sol com a peneira enquanto a margem de lucro era grande e a concorrência pequena, a fiscalização tímida e pouca cobrança da sociedade, além de equipes subordinadas subservientes com o tradicional modelo do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” e do “você sabe com quem está falando?”.
Contudo, a mudança rápida e irreversível nos itens citados acima, aliada à falência dos modelos e dos resultados efetivos, fez com que a verdade viesse à tona. E o quadro se repete em todo o sistema de saúde do país.
Ser um bom profissional de saúde não habilita, nem de longe e sob qualquer alegação, à gestão. O triste e sombrio cenário instalado no país tem componentes econômicos, financeiros, políticos, éticos, morais e técnicos, incluindo a falta de recursos financeiros e sua má utilização. Mas o fato de haver profissionais de saúde na gestão aumenta o impacto negativo nos modelos de assistência atuais.
Com urgência, gestores com formação na área precisam assumir de imediato o poder decisório de hospitais, clínicas, laboratórios, secretarias estaduais e municipais de saúde, ministério e demais segmentos que atuem no setor.
O foco a ser perseguido é a resolução da situação problema do cidadão (paciente, cliente, usuário ou a denominação que melhor convier), ou seja, um atendimento rápido e eficiente.
O quadro geral da saúde no país é caótico, vergonhoso, humilhante e não resolutivo ao cidadão, além de ser de alto custo, muito segmentado, sem interlocução e, principalmente, sem planejamento estratégico, sem metas.
é necessária uma política de estado de longo prazo com foco no cidadão, olhando ao futuro, e não apenas a conhecida política de governo ou gestão em que a cada mudança tudo começa do zero e o que foi feito, é descartado.
Cláudio Alexandre Tosta é Professor da IBE-FGV (Fundação Getulio Vargas) nos MBA em Finanças Corporativas, Gestão Empresarial, Gestão Comercial, Gestão de Pessoas, Executivo em Saúde, Logística, Gestão de Projetos, cursos de curta duração e Pós-graduação em Administração de Empresas e Professor da FCU (Florida Christian University – EUA – Orlando)


Matéria publicada originalmente na revista Wareline Conecta – Edição 11 – Janeiro, Fevereiro, Março/2016

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