Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Piracicaba (SP) é um dos casos que contraria a tendência apresentada na última Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), divulgada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic). A pesquisa mostrou que a infraestrutura tecnológica nos hospitais está elevada, 94% dos estabelecimentos utilizam computadores e 91% tem acesso à internet. No entanto, as informações clínicas ainda têm baixa adesão no que se refere ao registro de diagnósticos, pois apenas 49% dos hospitais utilizam a tecnologia nesse quesito, e só 40% usam na prescrição de medicamentos.
O AME registra todas as informações dos pacientes, desde os dados cadastrais, resultado de exames laboratoriais, diagnósticos, até problemas ou condições de saúde do paciente, formulando um histórico clínico. Porém, o processo de registrar informações eletronicamente começou em 2011.
O responsável pela área de Tecnologia da Informação da unidade, Paulo Ferraz afirma que, depois da implementação do sistema, os procedimentos foram otimizados e os pacientes também sentiram mudança. “Sem dúvida, as melhorias foram percebidas por todos. Os atendimentos passaram a ser mais rápidos. Todos saíram ganhando, mas os pacientes são os mais beneficiados”.
Ferraz explica que isso acontece porque com a migração do papel para a disponibilização das informações em tempo real, os profissionais de saúde ganham tempo e, além disso, quando estão atendendo o paciente, têm acesso ao histórico completo. “A diferença é significativa ao começar a utilizar um sistema como esse. Aqui somos uma unidade cirúrgica, e cada evolução do paciente numa cirurgia, o médico tem que anotar tudo. Com a ferramenta, que inclusive está no centro cirúrgico, os registros são facilitados e ganhamos tempo, reduzindo a duração dos procedimentos”.
Além da facilidade na rotina e agilidade no atendimento, Ferraz ressalta a relevância na parte gerencial. Relatórios, estatísticas e índices também são fornecidos pela ferramenta e auxiliam na tomada de decisão. “A contribuição é especialmente para que as decisões sejam mais certeiras e precisas, e isso reflete na melhoria dos processos, do atendimento e no próprio gerenciamento de custos.”
A solução implementada no AME foi fornecida pela
Wareline Software de Gestão Hospitalar. Os principais benefícios da solução Proware são a usabilidade e o tempo de atendimento. Segundo Paulo, a ferramenta utilizada anteriormente obrigava o usuário a navegar por muitas telas, comprometendo o tempo e a qualidade do atendimento. Com o uso do sistema esse processo foi facilitado, assim como o gerenciamento das metas atuais e futuras. “Creio que a maior vantagem é que se consegue, de forma eficaz, depois de, no mínimo, seis meses, controlar melhor as
compras. Isso porque todo o consumo passa a ficar registrado no sistema e, assim, as decisões de compras e gestão de
estoque tornam-se mais ágeis e eficazes”, completa Paulo.
A implantação inicial da solução levou cerca de 11 meses. O módulo do
Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), especificamente, durou uma semana. Sendo que a estabilidade, ou seja, todo processo de implantação e adaptação deu-se em três meses, isto porque cada setor tem suas peculiaridades. “Por mais que estejam previstas, muitas particularidades aparecem após a implantação. Novas ideias surgem a partir da experiência do usuário com o software”, explica Paulo.
O AME não precisou fazer alterações, aquisições ou adaptações, pois já tinha estrutura de TI necessária. Mas a Wareline, empresa que forneceu a solução, teve que desenvolver novas rotinas no sistema de estoque de acordo com a necessidade da farmácia do centro cirúrgico. Foi criada também a rotina de KITs para que o usuário possa montar um kit com controle de lote e validade. Quando o mesmo é dispensado, todos os itens são contabilizados na conta do paciente.
Cultura dos registros eletrônicos
No Brasil, apesar de as unidades de saúde terem acesso a computadores, a cultura dos registros eletrônicos ainda é pouco difundida. Para Raphael Castro, gerente comercial da Wareline, empresa especializada no desenvolvimento de
software de gestão hospitalar, a tecnologia hoje deve ser vista como uma grande aliada na melhoria e otimização dos atendimentos em saúde, trazendo benefícios principalmente para o paciente. “A tecnologia cumpre um papel fundamental na gestão dos hospitais e na troca de informações dos processos operacionais. O que falta, no entanto, é uma organização de processos clínicos para que ela seja útil também na gestão dos pacientes, isto é, na análise dos sintomas e tratamentos”.
Ao registrar esse tipo de informação, gerando conhecimento sobre o estado clínico do paciente, os profissionais de saúde teriam ao seu dispor mais subsídios para a tomada de decisões. “Nesse sentido, o prontuário eletrônico é um bom exemplo, pois possibilita a integração do corpo clínico, isto é, entre os profissionais de saúde. Com o registro dessas informações, todos do corpo clínico têm acesso à evolução do paciente e, por isso, as decisões tendem a ser mais eficientes”, avalia Castro.
A gestão em algumas unidades que aderem às ferramentas está tão avançada na prescrição de medicamentos, anotações da equipe de enfermagem e imagens de exames também ficam disponíveis. “é importante ressaltar que, mesmo com todo esse raio-x do paciente, a confidencialidade e segurança dos dados são preservadas, respeitando as recomendações do Conselho Federal de Medicina”, destaca o gerente da Wareline.
Mesmo com os benefícios, conforme mostrou a pesquisa TIC Saúde, a adesão aos registros ainda é baixa. Pela experiência com ferramentas de gestão, o responsável de TI do AME Piracicaba ressalta que o resultado da pesquisa pode ser reflexo de sistemas difíceis de serem utilizados. “Se o profissional acha complicado, ele já pega o papel para continuar. Mas não acontece isso aqui, pois a ferramenta que utilizamos é fácil. Para engajar os médicos a fazerem os registros eletrônicos é necessário convencê-los da importância do sistema e os benefícios que traz. No nosso caso, eles puderam sentir na prática e, por isso, foi natural a adaptação”.
Mas, segundo Ferraz, um ponto foi crucial para mudança dar certo. “Não podemos ter um sistema que exija que nossa instituição mude sua rotina para se adaptar a ele, jamais daria certo se fosse assim. No caso da Wareline, a ferramenta é pré-formatada, mas permite adaptação às rotinas individuais. Outros sistemas, que não possibilitam isso, geram baixa adesão dos registros.”
Fonte: Revista Panorama Hospitalar – Ano 1 – Nº 20 – Outubro/2014