Ricardo Nascimento Teixeira Mendes passou 36 de seus 58 anos dentro da Clínica Vera Cruz, uma instituição especializada no tratamento de doenças mentais. Hoje administrador da entidade, Ricardo começou a trabalhar no local muito antes, quando sua única função era contar comprimidos. Apesar da estabilidade profissional e dos cabelos grisalhos, que sugerem uma personalidade serena, ele reserva seu tempo livre para a prática de motoaventura.
Sua carreira profissional começou aos 21 anos, quando seu pai, Renato, e presidente do então Sanatório Vera Cruz, o convidou a ocupar o cargo de almoxarife. Nada mais natural que trabalhasse no local, já que seu pai era um dos fundadores da instituição, que possui hoje mais de 50 anos de existência. Após a morte do criador, em 1977, Ricardo se viu com 23 anos e um desafio enorme pela frente, afinal, a administração da clínica ficou sob sua responsabilidade e de seu irmão, Sérgio.
Em meio a algumas dívidas, os dois trabalharam incansavelmente para driblá-las e colocar a organização nos trilhos novamente. Após quatro anos de batalhas, ganharam a guerra e a instituição já conseguia caminhar com as próprias pernas. A próxima missão era conquistar novos convênios para aumentar a receita e a qualidade do serviço oferecido.
Mas os desafios não pararam por aí. Durante toda sua jornada a frente da administração da entidade, Ricardo enfrentou diversas dificuldades. Uma delas foi quando alterou a razão social do local de “Sanatório Vera Cruz” para “Hospital Vera Cruz” e firmou convênios com vários órgãos. Nessa época, em razão da grande demanda, a instituição chegou a possuir cerca de 500 leitos. Em busca de qualidade, optou por diminuir o número de vagas para garantir um bom atendimento.
Com o passar dos anos, o gestor público deixou de fazer investimentos no setor de saúde, o que comprometeu a qualidade dos serviços. Por este motivo, Ricardo teve de denunciar o contrato com o SUS, que representava aproximadamente 70% de seu orçamento. Com os custos fixos e uma receita significativamente menor, a organização entrou novamente num processo de endividamento. O desafio foi equacionar essas dívidas a partir de um novo modelo de gestão, agora horizontalizado, com a ajuda de um grupo gestor com representação de todo o hospital.
Além de administrar a clínica, Ricardo também é um dos diretores do Sindicato dos Hospitais do Estado de São Paulo (SINDHOSP). Apesar das dificuldades enfrentadas diariamente por quem trabalha na área da saúde, ele tenta ter uma rotina saudável, sem levar trabalho para casa.
O profissional, que também é advogado, mas exerceu por pouco tempo a profissão, é casado há 32 anos com a Lúcia. Seu filho, Eduardo, tem 20 anos e não pretende continuar o trabalho na clínica. Escolheu ser designer que, segundo Ricardo, é uma área bem mais encantadora e divertida.
A motoaventura é sua válvula de escape. Ele diz que “o vento se encarrega de limpar os problemas”. Considera o hobby melhor do que divã de analista, mesmo reconhecendo a importância do profissional. “Sair por aí sobre duas rodas é um modo barato e prático de conhecer diversas pessoas e costumes diferentes”, diz.
Em janeiro deste ano, ele partiu com um grupo de amigos em uma viagem de moto com duração de 17 dias. Saíram de São Paulo, passaram pela Argentina e pelo Chile. O caminho de volta também foi em sua big trail. Mas não importa o quão longe ele vá, sempre estará de volta à Clínica Vera Cruz.
Texto publicado originalmente na revista Wareline Conecta – edição 2