Magdala de Araújo Novaes foi eleita a pessoa mais influente em saúde digital da América Latina pela HealthXL Awards. Este, que é um dos principais prêmios do setor, tem o objetivo de reconhecer os principais expoentes globais de inovações direcionadas para a TI em saúde. A profissional foi escolhida em razão de seu trabalho como coordenadora do Núcleo de Telessaúde (NUTES), uma iniciativa que desenvolve e implanta ações de telessaúde e telemedicina, desde 2001, em Pernambuco.
O programa atinge todo o território nacional, mas se desenvolveu mais nessa região do país, em razão do trabalho do núcleo, que funciona dentro das instalações da Universidade Federal de Pernambuco.
Em entrevista à Wareline Conecta, Magdala fala sobre seu trabalho no NUTES e como ele pode transformar o acesso da população aos cuidados com a saúde.
WCONECTA: O que significa ter sido eleita a pessoa mais influente em saúde digital na América Latina?
Magdala de Araújo Novaes: Inicialmente, uma boa e inesperada surpresa! Também foi uma grande satisfação ver meu trabalho, e de todos os que estiveram comigo nesta trajetória, ser reconhecido. Este prêmio destaca a importância de nossa região e nossa universidade na área de saúde digital.
WCONECTA: O que você está pesquisando no momento? A qual projeto tem se dedicado mais e quais os planos futuros?
Magdala: Minha principal área de atuação é informática em saúde com ênfase em telessaúde e saúde móvel. Estamos focando em processos colaborativos na web e em dispositivos móveis para desenvolver suas aplicações nas áreas de saúde da família, saúde mental e obesidade. Nossos estudos futuros estão sendo direcionados por duas vertentes principais: o telemonitoramento de pessoas saudáveis, visando à promoção da saúde e de pacientes crônicos em cuidado domiciliar ou em acompanhamento nos serviços de saúde; e a construção de grandes bancos de informação para suporte à pesquisa.
WCONECTA: As ações da rede NUTES são mais focadas no nordeste. Como fazer com que o uso da telessaúde e telemedicina seja mais comum em outras áreas do país? Existe algum esforço nesse sentido?
Magdala: Apesar de nosso pioneirismo, hoje o Programa Telessaúde Brasil Redes, estabelecido em 2007, já levou a telessaúde a todos os estados do país. Os Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia têm fortalecido a área por meio de financiamentos e articulações nas três esferas de governo. Além disso, já se observa o crescimento do
investimento em startups de saúde digital e de grandes empresas que já atuam no mercado de sistemas de informação hospitalar na área de telessaúde. Sendo o Brasil um dos maiores mercados mundiais em telefonia móvel, a saúde móvel é uma das áreas que mais crescem por aqui.
WCONECTA: Quando se pensa em tecnologia, principalmente aplicada à saúde, o nordeste não é um lugar óbvio. Na sua opinião, como as pesquisas na área se desenvolveram tanto nessa região, tornando-a referência inclusive fora do país?
Magdala: As dificuldades de acesso à saúde em áreas distantes ou carentes motivam o desenvolvimento das pesquisas em nossa região. Ampliar o acesso e melhorar as condições do cuidado a saúde da população nos faz buscar soluções inovadoras, não necessariamente altamente tecnológicas, mas soluções adequadas à realidade local da saúde nestes municípios. Assim, a telessaúde impulsiona a integração ensino-serviço, amplia o campo de estágio, indispensável para uma boa formação e atualização profissional.
WCONECTA: Qual a importância da telessaúde em um país tão grande quanto o Brasil?
Magdala: é um dos caminhos para minimizar as dificuldades enfrentadas na saúde. é difícil imaginar que todos os municípios do país consigam estruturar uma rede tradicional – física – de saúde completa. A telessaúde permite a oferta em escala, podendo levar saúde a todos e em todos os cantos deste país. Deste modo, facilita o acesso a profissionais especializados, ao suporte ao diagnóstico e ao tratamento, bem como à promoção e prevenção em saúde.
WCONECTA: Caso a telemedicina fosse mais difundida no país, como estaria o panorama da saúde hoje?
Magdala: Com certeza seria bastante diferente. Os serviços de telessaúde já implantados no país apresentam resultados excelentes. Mas para que a telessaúde passe a ser uma realidade, é necessário um investimento sistemático e de qualidade em conectividade como o acesso a internet, que ainda é bastante precário em todo o país, mesmo nos grandes centros. As dificuldades enfrentadas pelos municípios na gestão de recursos públicos, a burocracia, a pouca disponibilidade de profissionais especializados em saúde digital, a ausência de uma regulamentação clara e de uma maior governança da tecnologia da informação nas instituições e nas esferas governamentais também são grandes barreiras.
Os programas de telessaúde buscam superar essas deficiências e, mesmo com todas as dificuldades, têm conseguido salvar vidas, minimizar deslocamentos e encaminhamentos. Consequentemente, tem sido possível otimizar custos do SUS (Sistema único de Saúde).
WCONECTA: Em comparação com outros países, em que situação está o Brasil na utilização da telessaúde?
Magdala: O Brasil se destaca por ter os maiores programas de telessaúde em saúde pública. Todos são referências mundiais. Também é referência por sua diversidade e soluções criativas, colocadas em prática por empresas e pelos mais de 100 núcleos de telessaúde implantados em hospitais universitários e municípios em todo o país. Ainda não temos a oferta em escala de tecnologias assistivas (recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência) ou de alto impacto tecnológico, mas muitos centros de pesquisa estão investindo nessas tecnologias.
A expectativa é de que o Brasil se torne cada vez mais referência na área, pois apesar de sempre termos muito a aprender e evoluir, temos muitas experiências inovadoras a compartilhar com outros países.
Texto publicado originalmente na revista Wareline Conecta – Edição 7 – Julho/2014